“O gramofone sempre me chamou atenção desde a adolescência, eu conheci o gramofone e sua história tão somente nos livros de história que estudava e não sei por que razão sempre me chamaram à atenção os gramofones. Eu tinha uma curiosidade imensa de saber como era, ver um pessoalmente, até que, quando nós estávamos peregrinando sobre as ruas da cidade para compor o acervo em 1988 até 1996, ficamos sabendo de um colecionador baiano que morava em Formosa. Chegando a essa pessoa, ela se dispôs a vender um cofre cheio de peças, eu tive a ousadia de perguntar o valor e depois de alguns dias, ele precificou os objetos e me passou o valor. Eu disse que não tinha condições de pagar, mas aquele negócio ficou corroendo aqui dentro, basicamente centrado na curiosidade de ter um gramofone. Um belo dia eu tive a seguinte ideia: de fazer uma rifa e adquirir fundos, assim procurei uma amiga artista plástica, a Ana Maria Figueiredo. Ela gentilmente pintou uma obra e nos doou, nisso estava o prefeito Neném Araújo e eu fui até o próprio prefeito e seu secretariado e expliquei: é uma rifa relativamente cara, mas o objetivo da rifa é esta: estamos trabalhando para montar o museu e arranjei alguns itens antigos e preciso adquirir. Tive um pouco de dificuldades, mas consegui o valor para arrematar os objetos. Isso, mais centrado na ideia de ter o gramofone que foi o primeiro instrumento feito para reproduzir o som. Há pessoas que chegam no Museu e perguntam: qual a coisa mais antiga? E eu não tenho como precisar, pois tem muitas coisas que não tem data e outras perguntam: qual a mais importante? Eu sempre me lembro do gramofone que para mim, foi muito importante na minha formação enquanto criança e enquanto jovem, isso é uma coisa em que eu me identifico muito aqui nesse Museu.”
Eu cresci e nasci em zona rural e a gente viveu sobre luz de lamparina até os 11 anos. A gente usava o óleo diesel e a fumaça enchia a casa. A gente acordava com o nariz preto, por causa do “pretume” do óleo, além de sujar a parede, sujava a gente também. Lembro que a gente tinha uma brincadeira doida de criança: a gente passava álcool na mão e passava na lamparina e sacudia, como se tivesse super poderes, com fogo nas mãos.
Meu pai, Sr. Iran Pereira de Oliveira (in memória) foi técnico em eletrônica, então as televisões fizeram parte da minha história e da minha família. Como as opções de entretenimento eram escassas, necessariamente a televisão acabou ocupando um espaço importante na nossa história. Me lembro que na nossa casa, eu e meus irmãos assistíamos a programação infantil, bem diversificada como era hoje, isso no início do milênio, quando os computadores já começavam a se tornar mais populares e depois com acesso à internet. Os computadores na época eram arcaicos comparados a hoje, mas para nós era algo incrível. Eu e meus irmãos passávamos horas e horas desenhando naquele programa de desenho Paint, os jogos eram aqueles solitários como o Freecell e o Paciência também, enfim acho que todas as pessoas da minha geração têm memórias com esses eletrônicos que eram tão acessíveis e populares.
Eu entrei na educação já tem 22 anos, e quando eu comecei nós não tínhamos os recursos que nós temos hoje, que é bem mais prático, bem mais fácil, que é a máquina de xerox. Nós fazíamos as nossas atividades no mimeógrafo e era um pouco trabalhoso, porque tínhamos que escrever todas as atividades no estêncil e colocar lá na máquina, colocava álcool – era uma máquina que gastava muito álcool – mas foi uma experiência boa, porque era o recurso que tínhamos para trabalhar com os alunos. A gente trabalhava, tinha que esperar secar todas aquelas atividades, não podia colocar uma em cima da outra tinha que espalhar numa mesa para ficar sequinha, para a gente poder juntar e entregar para as crianças. Mas eu vejo colo um lado positivo, pois me ajudou muito na minha área quando comecei.
Lembro de quando eu era ainda adolescente. Eu tinha uma tia que morava na fazenda e todas as férias, e e minha mãe íamos passar as férias na casa dela e lá ela utilizava, para passar as roupas, o ferro à brasa. E lá era comum usar muito o fogo à lenha, e ela pegava a lenha do fogo para colocar no ferro e poder passar roupa, quando era festa ou em eventos que tinha na região. Era uma época muito boa.
O meu pai, Dr. Levi Jacinto de Almeida, foi o primeiro dentista formado de Formosa. Lembro de como a gente brincava na cadeira do meu pai. Brincávamos de avião [...] e eu já até extrai o dente de uma amiga, mas foi tudo na brincadeira. Lembro que um dia a minha irmã chegou do colégio e colocou uma peruca no encosto da cadeira brincando e esqueceu lá. Mais tarde ela entra no consultório, um pouco mais escuro e sai gritando a minha mãe, dizendo que tinha alguém no consultório do meu pai. Quando minha mãe foi ver era a peruca na cadeira.
A máquina de escrever fez parte da minha vida nos últimos anos do curso de datilografia. Lembro que eu queria muito fazer um curso e minha mãe me inscreveu no de datilografia. O que se pensava, era que quem soubesse datilografar na máquina seria um ótimo digitador. Teve um dia que a máquina de escrever estragou e tive que escrever no computador. Quando eu digitava o “A” saía “AAAAAAAAAAAAA...”, pois o jeito de digitar não era o mesmo. Logo após veio a informática e já não se viu a máquina de escrever.
Eu me lembro que na década de 80, quem tinha enceradeira e escovão era só quem tinha boas condições. Primeiramente usava o escovão e depois a enceradeira, dava um trabalho enorme. Tinha apenas que tomar cuidado com a enceradeira, porque a maioria delas dava choque danado! Encerava-se um dia antes, esperava-se 12 horas para depois usar o escovão ou a enceradeira, ou os dois. Mas fica muito lindo, muito lindo mesmo.
Nos anos 90, eu li uma reportagem sobre o celular e que logo aquela novidade chegaria ao Brasil. Em 1997, eu morava em um local afastado de outras casas e passava muito momento só com minha filha. Aí falei com meu marido que precisávamos de telefone em casa, mas para isso tinha que ter uma linha e era muito caro e muito complicado de conseguir, contudo corri atrás e consegui adquirir. Lembro que o preço do celular era tão caro, que era praticamente o preço de um lote. Eu comprei um celular e paguei R$980,00 reais. Era um “tijolão” para falar tinha que abrir, puxar a antena, para conseguir sinal, e digitar para conseguir fazer ligações. Eu me lembro que um dia eu estava passando perto da Catedral e eu deixei o telefone cair. Ele caiu e um carro passou em cima do meu telefone. Estragou, mas consegui arrumar sem gastar muito. O fato de ter um celular era ser considerado rico. Outra experiência foi que eu tive que levar a minha filha ao hospital, por causa de uma estomatite, e não quiseram me atender. Então, quando peguei o celular para ligar para um vizinho para me levar para outro hospital, aí a moça do hospital me chamou para atender. O celular me ajudou muito, em muitas situações.
Eu vim de uma família muito simples, precária e minha mãe ganhava a vida fazendo alguns reparos em roupas. Ela sempre teve as pernas e as vistas fracas e sempre precisava da gente. Lembro que eu tinha 10 anos e eu colocava a linha na agulha para ela e ficava embaixo da mesa, no “pedalzinho”, onde ela batia o pé para funcionar, principalmente quando era calça jeans ou cobertor em que precisava de mais força, a gente pedalava com a mão para ela, enquanto ela manuseava lá em cima. Todas as vezes que ela ia fazer alguma coisa, ela chamava a gente: “Vem pedalar pra mim!”. A gente suava bastante pedalando.
Eu nunca tinha visto uma roda de tear. Quando tinha por volta de uns 10 anos, eu cheguei à casa de minha Vó Cota e a vi pegando num “trem” branco e passando nessa roda, que girava e girava. Minha vó foi me explicar como ela fazia os novelos de algodão, em que ela pegava o algodão no seu estado natural, tirava o caroço (nem sabia que algodão tinha caroço), desfiava de uma forma em que a roda ia transformando em um fio e o novelo se formava. Minha avó era uma ótima costureira! Acabei recebendo de herança uma colcha de retalhos sua.